quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Kyikatêjê




















O portão de entrada para a aldeia Kyikatêjê















Urucum, a planta de onde se extrai a cor vermelha para as pinturas corporais





























Jogando flechas.
Paralelamente às corridas de tora, existem os jogos de flechas, como prática que acentua a competição, publicamente e de modo ritualizado, reafirmando alianças interpessoais. Nas ocasiões cerimoniais, esses jogos consistem em competições realizadas no decorrer do dia, após a corrida de toras, quando todos se dirigem para um local na mata, próximo à aldeia. Por vezes, o jogo se realiza
em frente às casas, mas sempre até o final da tarde. Em grupos, formam pares (componentes de frações cerimoniais distintas) para a disputa de flechas, em caminhos radiais. Na outra extremidade ficam em geral rapazes ou mulheres que apanham as flechas para devolvê-las aos participantes.

Existem duas modalidades desse jogo que se sucedem no desenvolvimento do ciclo cerimonial, onde os Kyikatêjê utilizam tipos de flecha distintos. A primeira consiste em atirar para baixo, fazendo com que a flecha bata à frente de um pequeno arco fincado no chão a uma distância de um metro do jogador, para em seguida se elevar e cair a cerca de trezentos metros dali. Na outra modalidade, a flecha é atirada para o alto e seu percurso é ainda maior. Ao caírem no chão, a distância ultrapassada pelas flechas dos participantes, a cada jogada, determina o ganhador (de flechas) entre os parceiros. Os exímios atiradores, mulheres e homens maduros em geral, são admirados no interior da sociedade dos Kyikatêjê e seu desempenho, assim como dos corredores mais velozes e hábeis com as toras, é fonte de aquisição de prestígio e motivo para longas conversas no pátio.
Existem duas modalidades desse jogo que se sucedem no desenvolvimento do ciclo cerimonial, onde os Kyikatêjê utilizam tipos de flecha distintos. A primeira consiste em atirar para baixo, fazendo com que a flecha bata à frente de um pequeno arco fincado no chão a uma distância de um metro do jogador, para em seguida se elevar e cair a cerca de trezentos metros dali. Na outra modalidade, a flecha é atirada para o alto e seu percurso é ainda maior. Ao caírem no chão, a distância ultrapassada pelas flechas dos participantes, a cada jogada, determina o ganhador (de flechas) entre os parceiros. Os exímios atiradores, mulheres e homens maduros em geral, são admirados no interior da sociedade dos Kyikatêjê e seu desempenho, assim como dos corredores mais velozes e hábeis com as toras, é fonte de aquisição de prestígio e motivo para longas conversas no pátio.
Extraído e adaptado do site do ISA
















As mulheres com o cesto cargueiro




















O cacique, no terreiro da aldeia




















O Baixinho, no terreiro da aldeia























































































































Aspectos do ritual da corrida da tora

Os rituais dos Gaviões se ocupam diretamente das relações entre pessoas e grupos, mediante a utilização de um esquema simbólico: a divisão em metades. Todo o grupo está segmentado conforme essas metades cerimoniais, Pàn (Arara) e Hàk (Gavião), que disputam as tradicionais corridas de toras e os jogos de flechas. Uma outra divisão, nas frações Peixe, Lontra e Arraia, serve para a realização de um outro ciclo cerimonial.

Não são apenas as metades e outras frações que participam dos rituais: neles, pode-se notar oposições como entre parentes e afins, entre amigos formais, entre homens e mulheres ou ainda entre classes de idade. 0 jogo de futebol, realizado com freqüência no próprio pátio cerimonial da aldeia, prende-se à divisão entre jovens e homens maduros.

Há rituais que duram vários meses, com períodos de abertura e de encerramento. Ligada a todos os ritos, a corrida de toras voltou a se realizar com muita freqüência, disputando-se entre duas ou três turmas, basicamente, que correspondem a frações cerimoniais. São realizadas quase que diariamente, com toras de coqueiro babaçu ou de sumaúma, de acordo com a fase do ciclo cerimonial, pintadas de urucum. Ao chegarem ao pátio, os corredores são banhados pelas mulheres, que, em geral, costumam participar só no final. Inúmeros comentários, em tom jocoso, exaltam o desempenho dos corredores por todo o dia.
Extraído e adaptado do site do ISA















As mulheres preparando comida tradicional















Zeca Gavião,um dos lideres da aldeia com a Prof. Jane Beltrão. Momentos de discussão política sobre as grandes questões que preocupam a aldeia.















A Dra. Rosane, assessora da escola Kyikatêjê, do povo Kaingang, com a Professora Jane Beltrão















O alentêjê com as meninas que participam no ritual da tora












O alentêjê entre o cacique (à direita) e Kaipere. Kaipere foi um dos guerreiros que me acompanhou às ruinas da antiga aldeia da Ladeira Vermelha.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

carnavais e despedidas











domingo, 22 de fevereiro de 2009

Arqueologia guianense

A arqueologia guianense avança a bom ritmo...
Como curiosidade, vejam-se, na prancha apresentada, objectos muito semelhantes aos que, na Península Ibérica, chamamos de ídolos de cornos (link 1, link 2, link 3), com paralelos também no Suriname e no Amapá (informação de João Saldanha)...
E tão misteriosos, em termos funcionais, como os europeus...




















sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Antes do Brasil...

...os índios.






















9. "a etnologia pode fornecer um olhar crítico às interpretações históricas e arqueológicas"


36 "há hoje, como no passado, um curioso hiato entre as disciplinas: sem compreender os azares da pesquisa arqueológica, os etnólogos e historiadores tendem a adoptar a sua vulgata"


Sobre os Tupinambá, a guerra e o canibalismo ritual:

79 "A execução ritual podia tardar vários meses. Nesse intervalo, o cativo vivia na casa de seu captor, que lhe cedia irmã ou filha como esposa; sua condição só se alterava às vésperas da execução, quando era reinimizado e submetido a um rito de captura. Por fim, era morto e devorado"

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Amazônia: paraíso ou inferno verde





















Betty Meggers faz parte do património cultural da Amazónia: na verdade, ela é uma referência incontornável da arqueologia amazônica, um monumento.
Claro que muitas das perspectivas com que a sua obra foi construída estão hoje ultrapassadas e muitas das suas conclusões e propostas têm sido criticadas por sucessivas gerações de arqueólogos/antropólogos.
Convicta de que a floresta amazônica constituía uma barreira à complexificação social dos povos ameríndios que aqui se instalaram, ela ofereceu argumentos científicos à luta dos ambientalistas contra o avanço da economia predadora do mundo contemporâneo.
Com ou sem razão, ela certamente olhou para esta paisagem emblemática com amor. Uma vida pela Amazónia.
A minha homenagem.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Geoglifos





















Arqueologia da Amazônia Ocidental: os Geoglifos do Acre
Denise Schaan, Alceu Ranzi, Marti Parsinen

Tive o privilégio de assistir ao lançamento desta obra, na Biblioteca da Floresta (Rio Branco), no Verão de 2008. Testemunhei, assim, o elevado interesse com que ela foi recebida pelo público presente, traduzido numa participação muito ativa, por vezes emocionada, de pessoas de diversas áreas da cultura e da política locais.
O tema central deste trabalho - os “geoglifos” - se vier a ser bem aproveitado, poderá com certeza assumir uma importância significativa no desenvolvimento sustentável da economia da Amazônia Ocidental, em termos turístico-culturais.
A história destes monumentos é aqui contada a várias vozes e sob diferentes perspectivas.
O livro, que possui um cuidadoso aspecto gráfico, abre com uma apresentação do Governador do Estado do Acre, licenciado em História e, também por isso, muito bem colocado para entender o que está sendo discutido: mostra que as instituições estão vivamente interessadas em construir as pontes necessárias entre os interesses estritamente culturais e científicos e os interesses mais complexos de uma sociedade democrática.
Depois de uma introdução esclarecedora, assinada pelos organizadores, a Professora Denise Schaan traça, de forma muito pedagógica, um quadro geral sobre a história da investigação arqueológica no Estado do Acre, com uma focagem mais aprofundada no tema dos “geoglifos”. Para além dos dados de carácter historiográfico, esse texto resume o estado atual da pesquisa, sintetizando as principais problemáticas com que ela terá que lidar no futuro.
Entretanto, além desta síntese, o livro recuperou seguidamente alguns textos fundamentais, já publicados, mas, por diversas razões, de difícil acesso.
Um destes – o primeiro texto publicado sobre os monumentos acreanos – é da autoria do Professor Ondemar Dias (em parceria com Eliana Carvalho) que, nos tempos pioneiros do PRONAPABA (já com a participação, como estudante, do Professor Alceu Ranzi) colocou a primeira pedra no edifício. Trata-se de um artigo publicado em 1988, com algumas observações e hipóteses interessantes para a interpretação funcional dessas estruturas de terra.
O livro reedita também um texto de Alceu Ranzi e Rodrigo Aguiar, publicado numa discreta revista portuguesa de arqueologia, de vocação regionalista, em que os autores, apesar de não serem arqueólogos, colocam diversas questões de fundo, de que as mais interessantes serão, a meu ver, aquelas que derivam da relação entre os “geoglifos” e a paisagem.
O Professor Alceu Ranzi foi, indiscutivelmente, o principal divulgador destes vestígios, desempenhando, neste processo, um papel inestimável na sensibilização das populações e dos seus representantes políticos, atendendo à sua dupla condição de acreano e investigador universitário. Note-se que, para além da dimensão científica, tendencialmente neutra, o Patrimônio tem implicações afetivas que justificam, em parte, o seu reconhecimento social.
Num registro mais arqueológico e revelando, aliás, um bom conhecimento da bibliografia científica pertinente, segue-se na obra um artigo (publicado anteriormente em inglês), da autoria de investigadores da Universidade de Helsínquia (com a colaboração de Alceu Ranzi).
Os autores, coordenados pelo Professor Martti Pärssinen, cuja investigação se tem centrado, há já alguns anos, em temas relacionados com o contexto macro-regional, nos países vizinhos, desenvolvem aqui algumas hipóteses relacionadas com a complexidade social na terra firme amazônica, recorrendo à análise das fontes históricas, traçando uma síntese da agenda da arqueologia amazônica, nas últimas décadas, e articulando essa revisão com a primeira (e única, até ao momento) datação radiocarbônica disponível para os “geoglifos” do Acre.
Em seguida, Denise Schaan relata a sua experiência num projeto de Arqueologia de Salvamento que teve como objetivo a proteção do patrimônio arqueológico, em função dos trabalhos de implantação de uma linha de transmissão de energia elétrica. O artigo serve também de pretexto para a autora apresentar e discutir os fundamentos legais deste tipo de intervenções, assim como a sua aplicação concreta. Infelizmente, nem sempre existe uma perfeita compreensão, por parte das entidades promotoras de projetos de desenvolvimento, da importância da salvaguarda do patrimônio cultural, mesmo quando – e foi esse o caso – se trata de empresas governamentais.
Finalmente, no que diz respeito aos artigos, temos um interessante exercício de articulação entre etnografia e arqueologia, que é, aliás, uma caraterística recorrente na investigação amazônica: Pirjo Virtanen, investigadora finlandesa, procura desvendar os eventuais fios condutores entre os “geoglifos” e os povos indígenas da região, em particular os Manchineris (do tronco Aruak). Esses links, ainda certamente muito frágeis, poderiam, segundo a autora, encontrar-se na valorização econômica e simbólica das palmeiras – frequentemente encontradas associadas aos “geoglifos” -, na existência de terreiros de dança, na tradição Manchineri, assim como na lenda de que esse povo escavaria esconderijos, para se proteger de inimigos.
Com a finalidade de contextualizar arqueologicamente os “geoglifos”, o livro fornece ainda uma relação com todos os sítios arqueológicos conhecidos no Estado do Acre e, em anexo, apresenta uma Recomendação do Ministério Público sobre a proteção do Patrimônio Histórico-Arqueológico, assim como uma extensa Documentação Fotográfica com os principais monumentos.
O leitor terá certamente reparado nas aspas que usei sempre que mencionei a palavra “geoglifos”; na verdade, na minha opinião, essa designação não será a mais adequada, embora se trate, evidentemente, de uma opção compreensível. De resto, o Professor Alceu Ranzi deixou bem expresso que escolheu ela porque “os geoglifos de Nasca, Peru (…) tornaram-se famosos no mundo todo por sua beleza e mistério” e a proximidade geográfica entre o Acre e o Peru suportam, naturalmente, esta associação. Não esqueçamos que Alceu Ranzi, acreano de alma e coração, se tem empenhado na divulgação e promoção de um patrimônio que indiscutivelmente o merece.
Na minha opinião, os monumentos do Acre apresentam diferenças notórias, em relação aos verdadeiros geoglifos: não existem aqui os característicos desenhos zoomórficos de Nasca e estes, por outro lado, não implicaram o enorme esforço “construtivo” que está patente em muitas das estruturas de terra amazônicas. É certo, porém, que, nos Estados Unidos da América (nomeadamente no Ohio), existem construções de terra representando figuras zoomórficas que, de algum modo, poderiam fazer a ponte entre as do Acre e as de Nasca.
Por outro lado, tanto o descobridor dos “geoglifos”, Ondemar Dias, como os investigadores finlandeses, usam designações distintas (e muito mais genéricas): “estruturas de terra”, no primeiro caso, e “construções geométricas de terra”, no segundo.
Note-se que uma das características mais notadas nos recintos do Acre, é precisamente a posição relativa da mureta e da valeta, aparentemente inversa daquela que uma finalidade defensiva faria supor: a valeta fica sistematicamente no interior do espaço delimitado pela mureta. Este detalhe permite estabelecer uma analogia com os famosos henges das ilhas britânicas, de que o mais conhecido é precisamente Stonehenge.
Nesse caso, as interpretações arqueológicas – baseadas em diversos tipos de evidências – têm privilegiado o caráter cerimonial dos recintos, reforçado quase sempre pela presença de construções megalíticas associadas.
Porém, para além dos henges, existem na Europa milhares de recintos, pré e proto-históricos, delimitados por sistemas de muretas e valetas (bank and ditch), desde Portugal à Ucrânia e desde a Escandinávia à Itália. Embora as questões funcionais não estejam definitivamente arrumadas, pode afirmar-se, sem grande margem de erro, que estamos em presença de uma forma de construir e que, com ela, se fizeram diferentes tipos de construções, com finalidades distintas: algumas, como os referidos henges, delimitam espaços claramente cerimoniais; outras, como as do Sudeste da Itália (Tavolieri) ou do Sul da Península Ibérica, são claramente estruturas defensivas, protegendo povoados. Saliente-se, nesta última região, a existência de recintos defensivos com áreas superiores a 100 ha.
Com isso, o geometrismo dos “geoglifos” do Acre não pode excluir o seu carácter arquitetônico: na verdade, círculos e polígonos regulares (sobretudo quadriláteros) são figuras geométricas geralmente utilizadas na arquitetura, tanto sagrada, como profana, um pouco por todo o mundo.

Bibliografia
Bradley, R. 1998. Interpreting enclosures, in Understanding the Neolithic of north-west Europe. Editado por M. Edmunds e C. Richards. Glasgow: Cruithne Press.
Burgess, C., P. Topping, C. Mordant & M. Maddison. Editors. 1988. Enclosures and defenses in the Neolithic of western Europe. Oxford: British Archaeological Reports.
Cleal, R.M.J., K.E. Walker & R. Montague. 1995. Stonehenge in its landscape. Twentieth-century excavations. London: English Heritage.
Dyson, L., G. Shand & S. Stevens. 2000. Causewayed enclosures. Current Archaeology. 14.12 (168), pp. 470-2.
Edmonds, M. 1999. Ancestral geographies of the Neolithic: landscapes, monuments and memory. London: Routledge.
Francis, E. 2001. Avebury. London: Wooden Books
Romain, W.F. 1991. Symbolic associations at the Serpent Mound. Ohio Archaeologist 41(3), pp. 29-38.
Sanchez, A., J. Bellon, C. Rueda. 2005. Nuevos datos sobre la zona arqueológica de marroquies bajos: El quinto foso. Trabajos de prehistoria , vol. 62, no2, pp. 151-164.
Stallings, R. 1981. The alligator effigy mound. Ohio Archaeologist 31(1), pp. 13-15.
Vatcher, F. M & L. Vatcher. 1976. The Avebury Monuments . London: Department of the Environment HMSO
White, J.R. 1996. The Stubbs Earthwork: serpent effigy or simple embankment. North American Archaeologist, 17(3), pp. 203-237.
Manuel Calado

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Pedras e calendários 5








Alguns sítios com eventuais notações calendáricas, no divisor de águas Amazonas-Caribe.

Referidos no artigo:

BOOMERT, A. (1981) - The Taruma Phase of Southern Suriname. Archaeology and Anthropology, 4, n. 1 e 2, p, 104-157.

143
“...situated on the NW slope of the Makatu mountain, to the N of a cave in which Goodland (1976) found many petroglyphs. It consists of a row of some 30 stones.”

144
“Hurault, Frenay and Raoux (1963) found a number of stone alignments on top of a granite outcrop in the Mitaraka Massif , near the source of the Litani (Italy) in French Guiana. (…) Two small circles were associated as well as 13 figures constructed of small stones arraged in the form of human beings and animals.”

144
“Stone alignments are reported from the coastal region of the Territory of Amapá. (…) One site is composed of 18 stones, arranged to form a ca. 5m-long row”. (Meggers and Evans, 1957)

Pedras e calendários 4

A Lapa dos Gaivões (Arronches, Portugal) tem, talvez, o melhor exemplar de notações calendáricas, na pré-história portuguesa. Trata-se de um conjunto de traços pintados, organizados em 4 grupos de 7 , sugerindo fortemente a existência de um calendário luni-solar.





Foto de Rafael Henriques